"Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações a vida real terá sido mera coincidência." Éramos pequenos quando papai decidiu que não viveria ao lado de alguém que não amava. Na manhã de sexta-feira, depois de esvaziar parte das gavetas e macetar as roupas numa mochila velha, despedimos dele sem entender bem o que estava acontecendo. Permanecemos na calçada até o momento em que o vimos dobrar e esquina, ele não olhou para trás. Às vezes eu acompanhava mamãe até o orelhão do bairro, antes ela passava na mercearia e pedia um maço de cigarros e três fichas. As palavras ao telefone eram sempre duras e cheias de rancor e ao final de tudo, ela tocava meu ombro e forçava um sorriso de “está tudo bem”. Mamãe levantava bem cedinho, ajeitava o embornal nos ombros e apressava-se para não perder a condução. Ela trabalhava nas lavouras de café. Passávamos a maior parte do dia brincando de fazer bolinhos de terra na rua sem calçamento. Quando ...
Dos muitos caminhos onde eu andar, e das águas que atravessar...