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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Sete e Meia

"Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência." Em algum lugar entre o verde e o azul, estava Maria. Colhia o ouro que depois de lavado, secado, torrado e moído enriquecia seu senhor. Carregava no ventre o fruto de um amor proibido, semente ainda oculta pelas camadas de pele e algodão.  Tinha um sonho chamado liberdade, que ia além do azul e do verde. Num lugar desconhecido, talvez depois daquela serra, onde a vista do feitor não alcançaria. Pobre Maria, se soubesse que o futuro finda depois das sete e meia na chibata do carrasco, talvez tivesse criado asas e cortado o azul dos céus alcançando o esconderijo na serra. Dançaria de mãos dadas a outras mulheres, cantaria as canções da terra que não conheceu... Seria feliz antes de descer à cova rasa da escuridão. Amaria o filho mestiço, e lhe contaria os segredos que só as mães de cor sabem. Não esconderia a identidade nobre do pai, ma

Dia de Chuva

Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, situações da vida real terá sido mera coincidência.  Olha na janela entreaberta que insistente sacudir sua lataria a força impetuosa do vento que sopra constante do lado oposto ao seu. A chuva cai, cobrindo todo cenário com garoa finíssima, tornando brancas as mais altas colinas, lavando as roupas já enxutas no varal, encharcando os tênis rebeldes de caminheiros das enxurradas. Água que sacia a terra, resposta às orações do agricultor a espera do germinar da semente. Ela desfaz a esperança dos mais humildes amantes. Daqueles que fazem o trajeto a caminhar de suas casas até a praça central, agora iluminada por luzes multicoloridas em concordância com as festividades de encerramento do ano. Não praguejava a bênção necessária dos céus, mas se não fosse sua presença  lá estaria, ocupando um dos bancos de concreto espalhados pelo jardim florido. Seus olhos travessos inquietos não suportariam respeitar os limites do