A manhã de segunda despontou com pesadas nuvens ocultando o sol, permitindo apenas que tímidos raios iluminassem a cidade, fazendo a diferença entre a madrugada e a manhã.
Marcela havia dormido além do limite necessário, e consequentemente chegado atrasada ao trabalho. Adentrou as portas do setor caminhando silenciosamente até a mesa, com o olhar cabisbaixo, mas antes pode perceber o semblante de reprovação da chefe que custaria-lhe uma advertência verbal, já que não tinha nenhuma explicação plausível para o atraso.
“O que houve?”
Sussurrou Letícia.
“Perdi a hora.”
Respondeu no mesmo tom.
Iniciaram a tarefa diária. As manhãs de segunda na maioria das vezes eram bem tranquilas, sem muito trabalho acumulado. Mas nunca se sabe oque pode acontecer ao longo do dia.
Fábio já estava do outro lado da sala, compenetrado no seu trabalho. Como se a ignorasse completamente. O que a chateou um pouco, esperava pelo menos um olhar e um cumprimento ainda que inaudível de alguém com quem tivera "quase" um encontro na noite anterior.
A hora passou rapidamente, até o horário do café. Alguns como sempre correram apressados a fim de garantir os melhores lugares no refeitório, ela no entanto fez uma caminhada lenta e despreocupada, já sabendo que seu lugar estaria reservado na mesa de Letícia que saiu em disparada.
“E ai Marcela, tudo bem?”
Virou-se antes de responder a voz masculina já conhecida, com certa decepção por não ser a de quem esperava.
“ Oi Tomás! Sim e você? Como foi o final de semana?”
“Foi bom, deu pra descansar...É… Tá afim de ir ao cinema na quinta?”
Disse o garoto de supetão, com o olhar baixo tímido por trás das lentes do óculos.
Ela deu uma gargalhada sonora antes de responder corando a face.
“ Ué, vamos ver!”
“Bom... Pensa direitinho, depois me fala.”
Respondeu-lhe, em seguida adiantou o passo para o refeitório.
Marcela estava corada e com um sorriso estampado no rosto. Desconcertada, sentou-se na cadeira à sua espera enquanto as demais ocupantes olhavam para ela como se já soubessem de algo. Nenhuma disse uma só palavra. Destilaram conversas triviais até o momento em que o tempo se esgotou. Ao descer as escadarias, passou por ela o rapaz que sempre via alegre e sorridente, e na noite anterior a proporcionou momentos de distração incríveis, porém ele estava mudado, tenso e indiferente. "Será que aconteceu algo?" pensou consigo mesma.
“Oi!”
Falou, dirigindo-lhe um cumprimento.
“Oi.”
A resposta veio seca, áspera, sem mais nada a acrescentar, seguindo de passos rápidos a sua frente, como se estivesse correndo dela.
Novamente se viu corada, mas de raiva. “Como pode alguém ser tão agradável num dia e no outro um troglodita. Não posso esperar muito desses moleques.” Pensou consigo, enquanto voltava para o seu lugar.
As horas demoraram a passar, sentia-se o clima de hostilidade entre Fábio e Marcela, pois não dirigiram a palavra um ao outro durante o expediente, ainda que fosse necessário. Trabalharam com o apoio dos demais colegas através de recados. Letícia percebendo, perguntou:
“Você brigou com o Fábio?”
“Não sei. Vai ver ele tá de ‘chico’.”
Respondeu dando de ombros.
Letícia olhou para Fábio, este com o semblante furioso, trabalhando com certa estupidez. Enquanto Marcela agia da mesma maneira. Assim se foi, até o fim do dia.
Já em casa, depois do banho, ao conferir as mensagens de textos recebidas percebe um número incomum. Tratou logo de abrir para ver oque se tratava.
"Espero que se divirta com seu namorado."
Clicou sobre a foto pra identificar quem era mas não viu nada a não ser a imagem azul esverdeada do Whats App. Foi então no perfil procurar por grupos em comum, precisava descobrir quem era o remetente da mensagem antes de responder.
Enfim, encontrou um grupo, e foi procurar na lista de membros qual o nome pertencente ao número. Ao verificar, deu uma gargalhada audível.
“Ele está com ciúmes do Tomás!"
Exclamou satisfeita.
Fechou a tela e colocou o telefone no carregador, programando-o para despertar no momento certo. Não podia chegar atrasada mais um dia.
Deitou-se com um sentimento de profunda satisfação ao constatar que a indiferença, era só dor de cotovelo.
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