"Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."
Era sexta-feira. Às 19 horas se ouviu o tilintar da campainha, anunciando a chegada pontual do rapaz que viera busca-la para o passeio. O convite para o cinema havia sido recusado inicialmente, mas depois de alguma insistência e uma boa dose de conselhos encorajadores de Letícia, Marcela tomou a sábia decisão de dar seguimento a vida, aceitando o pedido cortês do amigo.
Haviam pesquisado na internet anteriormente oque estaria em cartaz naquela data e optaram por assistir "Depois daquela montanha", filme estrelado por Kate Winslet e Idris Elba. O caminho até lá foi preenchido por conversas triviais, sobre o trabalho, política, fofocas quentes de amigos em comum, nada que pudesse considerar realmente relevante.
Pagaram as entradas e compraram as pipocas, viram o filme e no fim, olharam para si arrependendo-se da má escolha que fizeram. Não por que o filme tivesse sido de todo ruim, mas por que a cena final não foi tão arrebatadora quanto se esperava de um filme dramático de sobrevivência envolvendo romance. Caminharam pelos corredores do shopping olhando as vitrines belíssimas com manequins muito bem trajados, com roupas que custariam mais da metade do salário operário que ganhavam. Marcela viu um vestido lilas, rendado nas costas com um tule cor de pele abaixo do pescoço e contorno bordado cobrindo os seios, ele era elegante e sexy. Aproximou-se deslumbrada, e logo deu um passo atrás ao verificar os 3 dígitos impressos na etiqueta.
_ Gostou do vestido?
_ É tão lindo, quanto caro.
_ Ficaria lindo em você.
_ Falou bem ficaria...
Respondeu-lhe com um sorriso dando de ombros.
_ Está afim de tomar um chopp antes de irmos?
_ Vamos lá!
Caminharam até um bar, e sentaram-se numa mesa de madeira que dava vista para a fonte próxima ao estacionamento, onde alguns casais de namorados conversavam. Tão logo foram atendidos e servidos por um homem alto, elegante e muito bem educado.
Tomás insistia em procurar os olhos de Marcela que fugiam dos seus, como se tivessem medo de descobrir ali algo novo. Após dois copos, Marcela já se sentia mais a vontade para fitar o homem a sua frente. Um pouco mais jovem que ela de cabelos negros e olhos castanhos que escondiam-se atras dos óculos. Ele era simpático, dono de um sorriso encantador e com braços que seriam capazes talvez de erguer o mundo. Compartilharam grandes segredos, coisas da infância e até o recente passado que ainda lhe assombrava com lembranças dolorosas.
Ele segurou em sua mão e a acariciou de leve, sentindo a pele macia. Aquelas carícias tocavam uma pequena parte do seu corpo, mas eram como se a envolvessem completamente. Estava encantada por alguém que embora tão presente nunca se quer lançou-lhe um olhar além do coleguismo profissional que tinham.
No caminho de volta pra casa, encostada no banco do corona olhava o jovem que segurava o volante conduzindo o veículo pela rodovia escura. Os faróis da pista contraria davam pequenos flash's dos contornos da face do jovem, projetando o contorno dos seus lábios. E ela se deixava levar pelo embalo do motor e as curvas da estrada caindo num sono leve, desperto ao chegar em casa.
_ Marcela...
Sussurrou Tomás, tocando-lhe as mãos, enquanto ela despertava abrindo os olhos vagarosamente.
_Chegamos princesa.
Ela molhou os lábios ressequidos ofertando-lhe um sorriso.
_ Obrigada pela passeio, foi ótimo!
_ Eu que agradeço a sua companhia.
Respondeu-lhe devolvendo o sorriso.
Olhares se cruzaram e naquele momento nada mais parecia existir além dos dois ali naquele carro, porém algo faltava... Marcela virou-se olhando os portões de casa sobre o vidro enquanto procurava a trava que abriria a porta e a levaria para longe da presença dele. A porta se abriu, e ela ouviu a voz masculina, rouca e sussurrando seu nome: "Marcela"
Ela se virou, e imediatamente os lábios se tocaram, e dançaram entrelaçando as línguas, tocando os dentes, compartilhando a saliva. Ao fim do beijo ela se afastou, com o olhar baixo e tímido, enquanto ele acariciava-lhe os cabelos.
_ Boa noite...
_ Boa noite.
Marcela ouviu o ronco do motor assim que fechou os portões, e pensou em tudo oque havia vivenciado naquele noite. Lembrou-se do filme, do bar, do caminho de volta, do beijo. Seu primeiro beijo desde que tivera terminado o relacionamento. Sentou-se na penteadeira, olhando no espelho os lábios sem batom. Estava consumado, havia recuperado totalmente da perda que tivera, e pronta para vivenciar uma nova e arrebatadora paixão. Naquela noite, havia sepultado o ex namorado. Aquele beijo era a prova disso, a perfeita evidencia da superação.
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