"Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."
Dedico esse conto ao amigo B.F, digno de todo o meu apreço por permitir uma exposição fantástica a sua vida enfadonha. rs
Dedico esse conto ao amigo B.F, digno de todo o meu apreço por permitir uma exposição fantástica a sua vida enfadonha. rs
Ao chegar em casa não teria alegrias, não se acostumou com a rotina desgostosa que alguns chamavam de vida, ela apenas sobrevivia. Como sempre as portas estavam abertas e a pia coberta de louças até o teto, as crianças ainda com a roupa da escola aguardavam a expulsão diária, atitude totalmente dispensável visto que já tinham idade suficiente para saber a hora de ir embora, mas com mães nada preocupadas estavam elas ali quase que o dia todo. Laura não perdia o prazer de ouvir os gritos da mãe furiosa que proferia o mesmo sermão todos os dias. Olhou sobre a mesa avistando em desordem as novas contas que chegaram, acumularam-se três de energia e o aviso para o corte chegou junto com a terceira. Precisava dar um jeito naquilo antes que ficassem no escuro.
Trancou os portões ordenando o banho imediato da filha que correu para o banheiro em passos largos. Enquanto ouvia o barulho do chuveiro, evidencia do cumprimento da ordem, ia ensaboando os copos e depois os pratos, cantarolando uma canção indistinguível movendo os quadris sincronicamente. Após enxaguar toda a tralha, ajustou o elástico que pressionava a torneira já carente de um ajuste.
_Não sou sócia da Cemig! Desligue o registro ou irei eu mesma desligar o relógio!
Esbravejou enquanto abria as janelas deixando entrar o ar do fim de tarde para ventilar a casa que mantivera fechada durante todo dia. Correu os olhos sobre a folhinha de calendário anexado na velha geladeira tendo sua porta escorada por um bloco de construção, faltavam ainda 8 dias para o pagamento e os armários já estavam vazios. O chuveiro parou de fazer barulho, foi desligado.
"Até que enfim."Pensou consigo, enquanto passava a vassoura pelo centro da casa, uma limpeza preguiçosa daquelas que omitem oque há embaixo da cama.
O gás já estava tombado desde o dia anterior, soltando uma chama amarela que pretejava o fundo das panelas, não havia mais reserva. Nada que seis tijolos e alguns gravetos no quintal não podiam resolver. Abriu a gaveta e retirou a ultima embalagem do macarrão instantâneo que por sorte, ainda poderia coze-lo no fogão a gás cujas chamas progressivamente iam se apagando. Caso contrario, improvisaria um fogareiro no quintal ou pediria seu milésimo favor a vizinha a qual era devedora de incontáveis xícaras de açúcar as quais tinha ciência nunca poder pagar, não naqueles dias.
Encheu os pulmões soltando o ar pausadamente enquanto pensava numa alternativa para seu infortúnio. Precisava de um milagre, precisava de um homem que a ajudasse pagar as contas. Negava-se a sujeitar-se ao obscuro mundo da prostituição, devia haver saídas mais honrosas que aquela. Quem sabe um parceiro fixo que lhe metesse um filho no ventre e a fizesse obter a estabilidade pertencente as gestantes. Concedendo enfim, novas justificativas as excessivas faltas que havia cometendo nos últimos tempos.
Lembrou-se então de Antônio o jovem que há tempos, com uma boa dose de vinho tirou-lhe um beijo marcante faltando pouco para que subtraísse também sua virgindade. Tendo desistido do seminário seguiu uma vida modesta e devota que mesmo fora das leis eclesiásticas, segundo as mexeriqueiras da vizinhança, continuava solitário após a tentativa de estabelecer um relacionamento sério com a jovem Larissa. Moça por quem cultivava certa inveja, sendo esta de família abastada e possuindo uma beleza ingênua daquelas que fascinam o olhar masculino.
Tratou logo de procurar entre as muitas caixas amontoadas no canto do quarto quinquilharias, os livros de feitiçaria da avó que havia recebido de presente no seu 15º aniversário. Há tempos não os via, mas sabia que estariam em algum lugar, depois de ter frequentado um templo evangélico em busca de prosperidade não obtendo agradeceu aos deuses por não ter desfeito dos livros.
Depois de revirar algumas caixas causando coriza fruto da rinite alérgica devido a nuvem de poeira que inundou o ambiente, encontrou os velhos livros de sua ancestral contendo as mais diversas poções e feitiços. Foleou algumas páginas antes de ouvir o estrondo da criança que cairá da cadeira tentando alcançar a lata de bolacha no topo do armário, que a essa altura se houvesse alguma coisa, já estaria esfarinhada no chão. Oque ainda assim aliviaria a fome, comer do que cai no chão não era um luxo permitiam ter naquelas situações.
Após acudir a menina que chorava, passou a lamina da faca sobre o galo que formou na testa e entregou-lhe o celular para distração enquanto preparava o jantar.
Já alimentada, pousou a garotinha no canto da cama, voltando aos livros. Apanhou-os e levou-os a cozinha, comodo da casa que não costumava faltar luz, os demais ou careciam de lampadas ou já estavam queimadas. Leu os títulos no anunciado de cada página, procurando algo que se encaixa-se no intento de conquistar um bom homem pausando numa intitulada de "Poções para Amarração".
Leu atentamente as instruções:
"Você vai precisar de um ovo, um vaso com terra vermelha, uma muda de planta Comigo Ninguém Pode, um copo de água com açúcar, uma vela branca, um pedaço de papel e o nome de quem deseja amarrar."
Listou mentalmente oque possuía e aquilo que teria de providenciar:
"Ovo, pedir emprestado. Vaso, pego a lata de café que está fazia a mais de mês. Terra, cavuco o quintal. Comigo Ninguém Pode? Hum... essa vai ser difícil... Dou um jeito!Água, ok. Açúcar...terei de apelar para a vizinha. Vela branca, amanhã cedo passo no cemitério, certamente ei de encontrar alguma. Papel e Caneta, ok. Nome dele ok.
Fechou o livro satisfeita e confiante. Amanhã daria um jeito de conseguir tudo oque precisava.
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