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Trajetória - Primeira Parte

Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nome, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.



Quatro meses separavam Helena do dia em que ocorreu o rompimento de seu noivado. Um relacionamento que se estendeu por 4 anos e terminou no final de uma missa das dezenove horas num domingo de horário de verão. Talvez as escadarias da praça da matriz ainda se lembrem das palavras apressadas e passos rápidos de quem não queria ouvir o que o outro tinha a dizer. Ela parecia não compreender nada daquilo, somente caminhava a passos velozes, como se quisesse deixar aquele assunto para depois.
Após muitas palavras, olha para ele e diz:
_ Você "tá" dizendo que quer terminar comigo?

_ Sim Helena. Quero terminar com você.

Lágrimas. As lagrimas invadiram o cenário de fim de tarde. Ela tirou rapidamente a aliança de ouro e estendeu a mão entregando a ele. Com um passo atrás ele rejeitou a oferta insistente. Porém o pranto doloroso só tive seu fim quando ocorreu devolução da promessa de amor. Amor que se acabou ali.
Ela foi para casa, não olhou para trás. A principio não entendeu o por quê de tudo aquilo, mas depois, compreendeu o motivo: Ele desejava uma mulher que estivesse com junto a ele na igreja, participando de grupos de oração e outras coisas mais... Ela havia desistido da religiosidade comprometida. Queria dar um tempo em tudo e seguir a vida. Tinha passado toda a sua adolescência e juventude cercada pelos muros da religião, e conviveu de perto com a imperfeição das pessoas. Sua imaturidade a fazia acreditar que os servos do Senhor deviam ser perfeitos. Mas ela via inveja, via magoa, via represália, ela via demais... E o que via, causava-lhe náuseas. Ele procurava uma parceira que estivesse sempre com ele, e ela se afastou das coisas que ele julgava serem importantes.

Estava sozinha, sem trabalho e cada vez mais decepcionada com as pessoas que havia se espelhado por anos. Quando sofreu uma agressão verbal e racista da ex professora de Escola da Fé, que certamente não a reconheceu, ela se decepcionou com a Igreja. Aquela mulher tão santa, tão inteligente, tão religiosa, frequente na missa a chamou de macaca? Como pode isso.
Novas lágrimas rolaram pelos seus olhos e passos apressados a conduziam de volta pra casa.


Coração ferido. Aquela foi a primeira vez que sentiu a dor do coração. Embora não seja física e palpável ele doí tanto quanto dente careado.
Olhos embaçados pelas lágrimas e pessoas na rua que olhavam espantadas procurando entender o que fazia a jovem chorar. Ela não parava, somente caminhava, sempre rápido com as mão no rosto, tentando ocultar entre os óculos um pouco dos olhos vermelhos e a face inchada. 

Rápido, rápido... Ao passar pela avenida central, viu um homem negro a porta de uma sala comercial. Ele estava bem vestido para uma terça-feira a tarde. Camisa social branca manga longa, gravata e calça preta. Ela apressou ainda mais a caminhada mas quando se aproximou dele, algo a fez parar. Ele lhe ofereceu uma rosa. Uma rosa vermelha. E com um sorriso disse: "Jesus te ama."
Ela, antes em pranto, não soube o que fazer. Apenas sorriu e devolveu-lhe o sorriso.




Aquela era uma igreja evangélica.

Foi para casa pensando sobre o que havia ocorrido e acreditou ser aquele um aviso dos céus, um sinal, algo divino a lhe orientar. Depois de ter nascido, e crescido dentro da Igreja Católica, algo que jamais tinha passado pela sua cabeça era algum dia entrar numa igreja evangélica. Ela tinha preconceito com os chamados "crentes". Considerava-os apóstatas da verdadeira religião. Mas depois das decepções e no momento em que o mundo parecia desabar aquele homem desconhecido a oferta-lhe uma rosa, mexeu com ela. E ela decidiu naquele noite participar pela primeira vez de um culto evangélico.

Continuará...

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