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Sete e Meia

"Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."



Em algum lugar entre o verde e o azul, estava Maria. Colhia o ouro que depois de lavado, secado, torrado e moído enriquecia seu senhor. Carregava no ventre o fruto de um amor proibido, semente ainda oculta pelas camadas de pele e algodão. 
Tinha um sonho chamado liberdade, que ia além do azul e do verde. Num lugar desconhecido, talvez depois daquela serra, onde a vista do feitor não alcançaria. Pobre Maria, se soubesse que o futuro finda depois das sete e meia na chibata do carrasco, talvez tivesse criado asas e cortado o azul dos céus alcançando o esconderijo na serra. Dançaria de mãos dadas a outras mulheres, cantaria as canções da terra que não conheceu... Seria feliz antes de descer à cova rasa da escuridão. Amaria o filho mestiço, e lhe contaria os segredos que só as mães de cor sabem. Não esconderia a identidade nobre do pai, mas nunca, nunca deixaria que o procurasse; sinhá Carmem não sabia perdoar traições. Seus olhos cor de riacho faziam-na parecer uma mulher amável, e assim o era, até onde convinha ser.

Perdida em seus devaneios, o sol começava a se esconder por trás da serra, e um dos feitores reunia o grupo que se unia para o retorno a fazenda. Maria não se junta ao grupo, fica para trás. Ela não sabe, mas ele sabe. Ela não teme e ele também. Ela não grita, ninguém a ouviria, nem a ajudaria. “Quem sabe acabe rápido”, pensa consigo, enquanto o homem introduz o membro dentro de si. “Acabou”, Maria olha para o céu, o sol já se pôs. O grupo está longe. O homem que antes a usou agora a amarra. É só ele, o céu, a terra, o ouro e a chibata, são sete e meia. 

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