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Ritual

Esta é uma obra de ficçãoqualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."

Dedico este a alguém de extrema importância em minha vida. Alguém que junto a mim tem construído uma história de pequenos fragmentos, e sendo meu suporte nas vitórias, derrotas e momentos de espera. A qual com ele festejo mais uma pequena conquista nessa trajetória que iniciei recentemente (Seleção de um conto para publicação na Revista LiteraLivre), que muito me alegra e motiva a continuar a desvendar os segredos e mistério do fantástico mundo das palavras. A você, A.J. 




Aproximava-se a o Equinócio de Primavera, apressavam-se em preparar tudo o que fosse necessário para que as boas energias rompessem com o que não fora tão bom no ano anterior. Haviam passado por grandes perdas, devida a instabilidade do clima que comprometeu a colheita. Além disso, do pouco que colheram os impostos ao rei recolheram boa parte, e o que restou foi levada pelos saqueadores. Para se verem livres, a pequena Aldeia fez contratos indecorosos com a milícia. Esta composta por bandidos procurados da guarda real, traidores e outros mal feitores que tinham grande habilidade com espadas e prazer em derramar sangue. Mas naquele novo ano, nada poderia dar errado. Sabiam que a culpa por todas as desgraças ocorridas era uma punição dos deuses, por muitos ali terem se desviado da antiga religião. 

Aquela era uma nova oportunidade. Novamente a donzela da primavera se uniria ao guerreiro caçador e boas energias fluiriam sobre as terras da aldeia, fazendo com que a fertilidade emanasse como um perfume e a prosperidade estivesse presente na vida dos aldeões aquele ano. O Sabbat era uma celebração especial, onde mulheres cantavam e dançavam ao redor da fogueira e os homens comiam e celebravam com bebidos fortes a chegada de um bom ano, principalmente pelo fato das famílias não terem mais de entregar suas filhas virgens a milícia.

A sacerdotisa mãe anunciou a necessidade de donzela, em que não se achasse defeito e que os ossos nunca tivessem sido quebrados e cujas primeiras regras tivessem vindo no Solstício de Inverno, como uma oferta paz a deusa e seu consorte. Ai estava um problema, pois nos últimos meses as virgens foram desfloradas em troca de proteção e não se achava quem poderia corresponder ao requisito imposto. 

Vera um aldeã órfã, havia perdido seus pais e irmãos numa das primeiras invasões dos saqueadores a aldeia, escapou, pois sua mãe escondeu-a numa abertura do assoalho da casa. Mas isso não impediu que ela a ouvisse ser estuprada e morta. Foi acolhida pelos vizinhos que cuidaram dela nos últimos meses, e por benevolência logo trataram de arranjar-lhe um casamento com um primo distante que não tardaria a chegar e selando a união dariam continuidade ao nome da família.

 Vera viu ai uma oportunidade para livrar-se do casamento com o primo que não conhecia. Eram comuns casamentos arranjados naquele tempo, mas temia ter de se unir a um homem já velho, cheirando a bebida e que a espancasse todas as noites obrigando a cumprir com as obrigações. Foi a procura da sacerdotisa e ofereceu-se para o ritual. Pensava consigo mesmo: “ É melhor a morte que submeter-me a uma vida de infelicidade.” Toda a Aldeia celebrou quando a noticia do encontro da virgem se espalhou, e saudaram Vera enviando-a muitos presentes. E o chefe, cuja esposa esperava um filho, disse-lhe que sendo menina colocaria nela o seu nome. Chegaram muitas caravanas, de distantes lugares.

Trazendo novidades e boas comidas.Levaram-na na manhã seguinte, e prepararam-na para a celebração. Foi banhada, perfumada, e penteada. Vestiram-na uma túnica branca e cobriram seu rosto com uma mascara feita de pele de carneiro. Em seguida chegou a mãe sacerdotisa orientou-a sobre como seria o ritual. Vera se espantou ao saber que não se tratava de um derramamento de sangue, mas sim de um rito de fertilidade que envolvia sexo com um homem desconhecido. Que possivelmente não tal como ela teria o rosto oculto por uma mascara e que ambos não se veriam mais depois daquela noite. Assim se fez e Vera foi encaminhada a uma caverna deitando-se sobre a esteira e enquanto ouvia as canções das mulheres que festejavam a chegada do Equinócio. Sentiu a presença de mais alguém na caverna e viu despido o homem que se aproximou coberto pela mascara e deitou-se ao seu lado. Vera não disse nada, ficou imóvel e sentiu o corpo estremecer quando ouviu o som da voz dele perto do seu ouvido. Ela se entregou a ele e o ritual foi cumprido. Na manhã seguinte, foi acordada por duas outras sacerdotisas que a encaminharam de levá-la de volta para casa. Vera não conseguiria esquecer aquela noite, pois foi diferente de tudo o quanto tinha vivido até aquele dia. E não conseguia agora, mais do que nunca imaginar-se nos braços de outro homem que não fosse aquele misterioso que a desflorara. Sua nova família preocupada encaminhou logo de providenciar  o mais breve possível  o casamento, afim de esconder qualquer fruto da união proveniente da cerimônia.

Seu primo havia chego junto com a caravana que viera para as celebrações do sabbat, mas ainda não tiveram tido a chance de conhecerem-se pessoalmente. Na tarde do primeiro dia, a deusa parecia ter abençoado as terras permitindo grande e visível florada das plantações entrou pela porta um jovem rapaz. Que foi-lhe apresentado como seu primo. Ele estendeu-lhe a mão e cumprimentou-a com um grande sorriso dizendo:

_Prima Vera!

Seu corpo estremeceu e sentiu um arrepio na espinha, ao constatar que a voz já lhe era familiar. Ela sorriu, e agradeceu a deusa pela benção da nova estação que chegará a pequena Aldeia.

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