“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência"
Este é um fragmento de uma história triste, mas real. Ainda vivo as sequelas desse periodo trágico, mas de muito aprendizado.
Na simplicidade das coisas encontra-se um tipo de felicidade que só é percebida quando se perde aquilo que outrora se tinha, mas daí é tarde demais para lamentos. O tempo de viver se foi...
Era assim que Laura se sentia todas as vezes que voltava para casa.
Comparava tudo aquilo com a vida que tinha, e realmente o contraste era de amargar. Como podia ter feito tantas más escolhas e agora estar envolvida num relacionamento destrutivo. Mesmo livre, correntes invisíveis estavam sobre seus pés e mãos e a dominavam impedindo dar asas aos seus sentimentos, pensamentos e desejos.
No anseio de sair da casa dos pais, apressou-se numa união impensada e indesejada por muitos, que tinham lá suas razões para acreditar que aquilo não daria certo, e não deu.
Ela estava infeliz.
Uma infelicidade silenciosa oculta atrás de um sorriso triste, dominado pelo conformismo de ter de ficar escrava da escolha que fez, até o fim de sua vida.
A crueldade não tardou aparecer nas atitudes daquele que embora com um passado comprometedor, admitiu-se arrependido e proposto a mudar. No início passou noites acordada a sua espera, sem saber onde estaria e quando chegaria em casa, mas com o tempo foi acostumando com a rotina da sua ausência e se submentendo a falta de respostas. Brigas, discussões, decepções, tudo isso foi matando o "amor" que julgava sentir por ele. No fim só restavam cacos e o conformismo... Até que numa noite de quarta-feira tudo mudou.
O jantar havia sido servido às 7:30 da noite, e ele havia saído pouco antes das 6 dizendo que retornaria. Após aguardar, e já sabendo que não voltaria, às 8 da noite tapou as panelas e juntou as louças. Próximo das 10 da noite, sentiu sono, colocou as crianças para dormir e também se recolheu. Ela já sabia que ele não voltaria.
Estava errada.
Próximo da Meia noite, ele bate na porta e ela se levanta e abre. Ele pede o jantar, ela diz para que esquente, afinal havia sido servido no horario certo. Ele bêbado, não aceita. Ela liga o fogo, ajeita as panelas e esquenta a comida para o homem que sentado no sofá, aguarda.
Ao terminar ela volta pra cama, antes avisando que já estava pronto. Não demora muito para ouvir os gritos na cozinha de que a linguiça estava queimada e não ia comer aquilo.
_ Coma salsicha, é só por água e ferver.
Sugeriu ela ainda deitada.
_ Então venha fazer.
Ele respondeu.
Praguejando Laura se levanta, vai até o cozinha, coloca 4 salsichas para ferver e aguarda até que o líquido se torne amarelo lavantando fervura e desliga o fogo.
_ Está pronto!
Diz ela a caminho do quarto.
_ Eu não vou comer isso sem molho!
Naquele momento ela falou as palavras erradas, que deveriam ter sido ditas a muito tempo:
_ Eu não vou fazer molho pra você! Você chega em casa drogado e bêbado e vem me encher. O jantar estava pronto na hora certa. Se não quiser comer fique com fome!
O semblante daquele homem mudou imediatamente. Ele agarrou em seus cabelos e a arremessou longe, ficando apenas com um tufo negro em suas mãos. Cheia de raiva ela parte pra cima dele, porém a força feminina jamais pode ser comparada a de um homem enraivecido. Ela lhe dá um tapa, ele revida com muitos socos e murros.
Ele ameaça quebrar toda a casa, inclusive a TV novinha, que tinham comprado fazia um mês e ainda estavam pagando as prestações. Pega ela com apenas uma mão e levanta para cima ameaçando joga-la no chão. Ela implora, ele cede e poe a TV no lugar.
As crianças acordam e choram ao observar aquela cena.
Ela corre para o quarto, afim de tirar a máquina de costura da mesinha atrás da porta, temendo que ele a quebre. Nesse momento pela fresta da porta Laura assiste uma luta. Sarah, sua enteada, e ele brigam por algum objeto, ela não sabe o que é, mas Sarah sai vencedora e vai para o quarto de visitas enquanto ele segue caminho até onde ela está.
Enlouquecido ele quebra o computador, a impressora, a escrivaninha e o que achou pela frente.
Ela chora. O bebê chora.
Ele fecha a porta e coloca o bebe na cama, e pede pra ela tire a roupa.
Ela se nega, mas ele ameassa mata-la. Ele a estupra na frente do filho de 1 ano. E no final deita do lado da parede e dorme satisfeito.
Ela pega o bebe e vai para a sala, prepara a mamadeira e o faz dormir em seus braços, pensa em tudo o que aconteceu até o amanhecer.
De manhã ele se levanta com o olhar arrependido, vendo a casa destruida, e as marcas de violência na mulher. Mas essa tem um olhar vazio, frio, distante.
_ Perdão.
Ele diz.
Ela permanece em silêncio enquanto ele sai para o trabalho.
Minutos depois Sarah se levanta e lhe entrega uma faca com o cabo quebrado.
_ Toma, esconde.
Foi então que ela percebeu que a luta era pela faca, certamente ela estaria morta se não fosse Sarah.
Ela chora. Elas choram e se abraçam.
Sarah lhe diz:
_ Laura, "tô" indo embora. Mas se eu fosse você, ia pra casa da sua mãe. Não ficava aqui não, o pai vai te matar.
Ela concorda enquanto a menina de 8 anos arruma as malas e sai a espera do ônibus que passa frente a casa, afim de voltar para a mãe.
Laura permaneceu sozinha com seus pensamentos enquanto o bebê dormia. Lembrou-se do tempo em que a vida não lhe causava nenhum risco, que os problemas que tinham com sua família eram mínimos perto de tudo aquilo que tinha vivenciado, e por fim sentiu saudades de dormir em segurança num lugar longe dali.
Depois de uma tentativa de reconciliação da parte dele, sendo negada por ela. Na manhã seguinte ela sai de casa com a roupa do corpo e R$ 6,75 no bolso. O dinheiro da passagem de volta para casa. Não sabia o que esperar, não sabia oque dizer, não sabia nem se seria bem recebida pela família. Só sabia que não havia mais lugar ali para ela.
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