“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência"
Dedico este conto aos meus companheiros diários. Todos eles, sem excessão. E creio que um dia, seremos devidamente reconhecidos por todo o esforço que fazemos ao dar nosso melhor naquilo que é nossa obrigação: lutar. A toda a equipe do Ac. M.
Iniciava uma nova partida na terra dos tabuleiros.
O Rei Branco chegou todo imponente e posicionou-se na sua devida casa ao lado da Rainha a peça mais importante do jogo, claro, depois do rei.
Torre, Bispo, Cavalo estavam animados para o ínicio. Naquele mundo as partidas eram intermináveis e sempre que um dos reis tombavam
iniciavam-se novas partidas.
Ao comando das rainha as demais peças seguiam no duro combate
contra o adversário. Porém chegou um tempo em que aqueles considerados sem
importância puseram-se a pensar e essa atitude ameaçou o reinado das
brancas.
Por certo todo o exímio jogador sabe que os peões as são menores peças do tabuleiro, representam a infantaria de um reinado e vão
a frente, seguidos pelas peças de maior valor.
O
sonho de um Peão era alcançar o outro lado do tabuleiro, desbravar
todo o campo de batalha e chegar às casas outrora ocupadas pelos magistrados inimigos, podendo assim se tornar um guerreiro lendário no seu próprio reino, quem sabe
até mesmo, uma nova rainha. Nada honroso era para um soldado, chegar ao apogeu de
sua carreira e trocar de sexo. Mas sabia ele das
vantagens que haveriam possuindo os poderes da primeira dama. Raramente achava-se um, que desejasse tornar-se uma torre ou ministro da igreja.
Mas essa história não é sobre a sexualidade dos peões, nem
tão pouco dos desejos ocultos no coração de cada um daqueles 8 soldados. Essa
história narra o descaso da rainha pelos nobres combatentes que iam a frente da
batalha sacrificando suas vidas a fim de manter seu reino glorioso. Não havia
nenhum mérito em ser peão, ele sabia que na primeira e melhor oportunidade
seria sacrificado com a finalidade de eliminar uma peça de grande valor adversária. As
vezes, por um erro de calculo, via-se peão contra peão numa luta sangrenta onde
restavam poucos pra contar a história e o jogo seguia fervoroso somente com
aqueles que eram os detentores da glória.
Mal sabia rainha que dentro de cada um daqueles
pequenos bonequinhos de madeira, batia um coração que deseja ser valorizado, e os dias passaram-se até que eles decidiram fazer o jogo virar.
— Como pode ser isso? — Questionou o senhor Bispo da esquerda.
— Eles acham que são gente! — Exclamou a Torre da direita
enquanto as demais peças permaneciam em silêncio, aguardando a Rainha Branca tomar
alguma atitude.
Ela havia pisado na bola feio ao subestimar os menores, que
agora deram-se conta de que, sem movimento, a partida simplesmente não acontecia
e esse seria o fim da terra dos tabuleiros.
— É uma rebelião! — Falou um dos adversários.
— Dará mal exemplo a todos os outros reinos... — Balançava a
cabeça o Cavalo Negro enquanto a Rainha Branca nada fazia a não ser
gritar: — Aceleraaaa!
Nada podia fazer pobre rainha, eles não se moveram nem uma
casa se quer. Ficaram ali, parados. Nem mesmo um Rei afogado seria
o final daquela trágica partida, a Rainha Negra lixava as unhas enquanto os
peões perturbaram-se com a audácia dos brancos ao desobedecer as ordens da soberana.
— Oque vocês querem? —Por fim indagou Rainha Branca, depois de
perceber que nada, nem mesmo seus gritos, os fariam mover-se contra o adversário.
— Sermos mais valorizados! — Disse o peãozinho de voz tímida
a frente do Rei.
O Rei por sua vez, franziu a fronte e olhou para a Rainha, que
com um meio sorriso compreendeu o que sucedia ali.
Ainda que os peões sejam considerados as peças mais fracas
do tabuleiro, nunca subestime o poder deles em combate. Pois numa batalha, todos são responsáveis pela vitória: Desde aqueles que perdem as
suas vidas, quanto aqueles que permanecem de pé até o final vendo tombar o rei adversário. A rainha Branca aprendeu ali uma lição importante:
Deveria tratar com respeito todos os seus súditos, não importa se eles fossem
torres ou peões, afinal, lutavam do mesmo lado. E deveriam obter os mesmos
reconhecimentos.
— E a partida? Como vai acabar? —Perguntou um espectador que
aguardava a liberação do tabuleiro, para o início do próximo jogo.
Todos conservaram-se em silencio, até o Rei, que só se deu
conta da revolta e dos desafetos da Rainha contra os Peões quando tudo se tornou evidente.
Quanto a mim, nada tenho a acrescentar, afinal, no pouco tempo de existência que
tenho na terra dos tabuleiros, já vi tombar 2 rainhas, 1 peão se tornar rainha, e até muitos peões serem substituídos. Mas o que muda o jogo, é quando cada peça, por menor que seja, toma
consciência do seu poder numa partida decisiva.
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